terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ESCAVADEIRAS CHEGAM A COMUNIDADE ISOLADA EM TEREZÓPOLIS 704 MORTOS

PAULO MELO ON LINE


G1 chega a bairro que ficou isolado pelas chuvas em Teresópolis

Campo Grande foi devastado; dezenas de casas desapareceram.
Para chegar ao local, equipe pegou carona em uma escavadeira hidráulica.

Luciana Bonadio Do G1, em Teresópolis


Bairro isolado em Teresópolis Pedras enormes deixaram dezenas de casas completamente destruídas (Foto: Luciana Bonadio / G1)O G1 chegou nesta terça-feira (18) ao bairro Campo Grande, em Teresópolis, Região Serrana do Rio, que ficou isolado pelas chuvas fortes que atingiram o município na última semana. Na chegada, um cenário desolador: dezenas de casas desapareceram em uma avalanche de pedras. Entre os moradores, histórias de perdas de familiares, sofrimento e alívio por estar vivo. Eles têm a certeza de que há muitos mortos que ainda não foram resgatados na áreaUma semana após a tragédia na Região Serrana, o número de mortos passa de 704Para chegar a Campo Grande, só caminhando ou a bordo de um veículo que consiga transitar na lama. A reportagem do G1 pegou carona em uma escavadeira hidráulica que subia o morro para trabalhar na retirada dos escombros.Com a passagem dessas máquinas, os veículos de resgate conseguiram acessar a região. Antes, barreiras impediam o tráfego de qualquer veículo.  Voluntários ajudam moradores do Bairro Campo Grande foi devastado
(Foto: Luciana Bonadio / G1)
 
O voluntário Eidi Lopes, de 40 anos, morador de Pimenteiras, também em Teresópolis, ajudou a chegar ao bairro que ficou isolado. Ele mora no município há 31 anos e diz não ter visto nada parecido com o que aconteceu.
“Eu estou oferecendo meu trabalho, carregando água. O Campo Grande está devastado”, comentou. Ele serviu de guia também para uma equipe de televisão portuguesa que veio ao Brasil para fazer a cobertura da tragédia na Região Serrana.
Durante todo o caminho, moradores carregavam geladeiras, fogões e outros objetos que salvaram do meio das casas destruídas. O pintor Mir Ribeiro Rodrigues, de 55 anos, pendurou um edredom em um pedaço de madeira para carregar o que sobrou de seus bens. “Estou aproveitando para tirar tudo o que tenho, porque estão saqueando lá”, reclamou. Enquanto isso, o açougueiro Pedro Ribeiro Filho, de 40 anos, e a mulher enfrentavam o caminho para levar comida para a gata e o cachorro. Os dois deixaram o bairro e estão morando na casa de amigos.
Bairro isolado em Teresópolis Pedreiro mostra o que sobrou de sua casa
(Foto: Luciana Bonadio / G1)
Pedreiro perdeu 15 familiaresPedras imensas rolaram para onde havia as casas, devastando tudo. O pedreiro Hércules de Oliveira, de 30 anos, não sabe como sobreviveu – ele perdeu 14 parentes. “Você tem que perguntar para Deus, que nos deu a graça de sair dali”, afirmou. Ele tem uma filha de sete meses e conta que só teve tempo de segurar a criança contra o peito e correr. Da casa dele, só sobrou um cômodo de pé. Enquanto caminhava entre os escombros com a reportagem do G1, o pedreiro apontou para o chão e disse que ali ficava o telhado da casa da irmã dele. “O bairro acabou.”
Também morador de Campo Grande, o pedreiro Marcos Antônio de Melo, de 29 anos, estava no Rio na madrugada da tragédia. Nesta terça-feira (18), ele tenta limpar a casa e cuidar dos bens que restaram. “As casas que ficaram aqui estão sendo saqueadas. Então temos que ficar para cuidar do que sobrou”, afirmou. O pedreiro mora há 25 anos no bairro e lamenta a perda de vizinhos e amigos - nenhum parente dele morreu durante o temporal.
Moradores improvisam para conseguir águaEm uma rua do bairro, o servente Valdelir Correia, de 42 anos, e o desempregado Amaurino Anselmo, de 64 anos, usavam uma mangueira para trazer água de uma mina. Sem abastecimento de água ou energia elétrica, eles improvisavam para conseguir se manter na região. “A gente não vai abandonar isso aqui de jeito nenhum”, afirmou Anselmo. O servente perdeu a mãe, o irmão, o tio e a sobrinha na tragédia.
No caminho de volta, um grupo de pessoas tentava resgatar um corpo localizado sob pedras e troncos de árvores. Eles retiravam o entulho com as mãos. Um caminhão dos bombeiros seguiu para ajudar no resgate desse corpo. Em outro ponto, agentes da Polícia Federal caminhavam em direção ao bairro por causa da informação sobre os saques na região.

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