PAULO MELO ON LINE
Casas em ruínas, árvores violentamente arrancadas pelas raízes, galpões
inutilizáveis, carros reduzidos a ferro-velho em meio a escombros ou
enterrados na terra. O cenário de devastação no distrito de Vieiras, na
zona rural de Teresópolis, lembra a Faixa de Gaza na semana seguinte ao
fim dos bombardeios.
Não se trata de uma comparação esdrúxula. As causas da desolação são, é óbvio, completamente diversas – de um lado, as bombas, de outro, a força das águas –, mas a destruição se assemelha, no resultado.
Como repórter, estive no território no fim de janeiro e início de
fevereiro de 2009 para cobrir as conseqüências de 22 dias de
bombardeios. A ofensiva israelense resultou em 1.330 palestinos e 13
israelenses mortos. Então, como agora, impressiona o estrago, e a
reconstrução parece distante. Provavelmente, os lugares não voltarão a
ser como antes.
Nos dois locais, na zona rural, era possível ver no meio das ruas árvores retorcidas e com as raízes expostas, colchões, geladeiras, máquinas de lavar e televisões misturadas à terra. Na rua principal do centro de Vieiras, muitas casas tiveram pedaços destruídos pelas pedras que rolaram dos morros próximos e vieram trazidas pela força do rio, que subiu. Há também pedras de 1,5 metro junto a residências.
Tanto em Teresopólis como em Gaza, a terra aparecia em muitos pontos
revirada, com marcas de lagarta de veículos – aqui de tratores de
reconstrução; lá, lembrança fresca dos veículos blindados israelenses no
barro avermelhado. Faltava luz. “Passou um tsunami aqui. Acabou tudo,
mas vamos reerguer, pode ter certeza”, disse o morador Jorge Santos.
As semanas seguintes a uma catástrofe parecem guardar semelhanças em diferentes partes do planeta. Gente recolhendo o possivelmente reaproveitável, contando os mortos e buscando se recompor. Caminhões e tratores mexem em entulhos, buscando reconstituir alguma ordem.
Esta semana, era possível ver a mobilização da população local, com vizinhos ajudando outros mais necessitados e moradores de outras áreas do município indo até Vieiras para ajudar. O distrito fica a 36 km do centro de Teresópolis, em um vale na estrada Teresópolis-Friburgo. Nos primeiros dias, a área com cerca de 30 mortos e muitos desaparecidos, ficou isolada pela queda de barreiras na rodovia. Pontes caíram e habitantes improvisaram três passagens com troncos de árvores.
No tradicional hotel-fazenda São Moritz – que perdeu quatro funcionários na tragédia –, um bambuzal de cerca de 8 metros de circunferência foi arrancado do solo pelas raízes e parou a 100 metros de distância, onde ficou estirado no chão.
Em Gaza, a destruição obedeceu em parte a critérios estratégico-militares; em Teresópolis, a devastação não teve regra.
Tanto no Oriente Médio como no Rio, porém, chama a atenção certa resignação com a morte e a destruição, como uma fatalidade inevitável, fruto do destino.
Cenário em Teresópolis lembra devastação na Faixa de Gaza
Árvores arrancadas do solo pelas raízes, casas destruídas, carros retorcidos guardam semelhanças com resultado de ataque militar
Foto: Helio Motta
Carro arrastado pelas águas e paredes de casas destruídas em Vieiras, Teresópolis, faz lembrar cenário de conflito
Não se trata de uma comparação esdrúxula. As causas da desolação são, é óbvio, completamente diversas – de um lado, as bombas, de outro, a força das águas –, mas a destruição se assemelha, no resultado.
Foto: Raphael Gomide
Palestino conduz carroça na Faixa de Gaza, passando diante de um carro sobre destroços
Nos dois locais, na zona rural, era possível ver no meio das ruas árvores retorcidas e com as raízes expostas, colchões, geladeiras, máquinas de lavar e televisões misturadas à terra. Na rua principal do centro de Vieiras, muitas casas tiveram pedaços destruídos pelas pedras que rolaram dos morros próximos e vieram trazidas pela força do rio, que subiu. Há também pedras de 1,5 metro junto a residências.
Foto: Helio Motta
Escavadeira trabalha em Vieira, em meio a árvores arrancadas, sofás na lama e uma moradia destruída
As semanas seguintes a uma catástrofe parecem guardar semelhanças em diferentes partes do planeta. Gente recolhendo o possivelmente reaproveitável, contando os mortos e buscando se recompor. Caminhões e tratores mexem em entulhos, buscando reconstituir alguma ordem.
Esta semana, era possível ver a mobilização da população local, com vizinhos ajudando outros mais necessitados e moradores de outras áreas do município indo até Vieiras para ajudar. O distrito fica a 36 km do centro de Teresópolis, em um vale na estrada Teresópolis-Friburgo. Nos primeiros dias, a área com cerca de 30 mortos e muitos desaparecidos, ficou isolada pela queda de barreiras na rodovia. Pontes caíram e habitantes improvisaram três passagens com troncos de árvores.
No tradicional hotel-fazenda São Moritz – que perdeu quatro funcionários na tragédia –, um bambuzal de cerca de 8 metros de circunferência foi arrancado do solo pelas raízes e parou a 100 metros de distância, onde ficou estirado no chão.
Em Gaza, a destruição obedeceu em parte a critérios estratégico-militares; em Teresópolis, a devastação não teve regra.
Tanto no Oriente Médio como no Rio, porém, chama a atenção certa resignação com a morte e a destruição, como uma fatalidade inevitável, fruto do destino.
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